O economista mais importante da segunda metade do século XX condensa algumas das suas ideias e elabora como os liberais deveriam lidar com certos tipos de problemas.
O livro de 1962 traz respostas para perguntas em uma época em que o consenso keynesiano e a guerra fria rondavam o mundo
O capitalismo e liberdade é uma obra separada por 13 capítulos em que Friedman analisa questões políticas, econômicas, sociais, religiosas, filosóficas, educacionais, monetárias, e governamentais.
Logo na introdução, o economista levanta uma crítica sobre uma fala no discurso de posse do presidente dos EUA, J.F. Kennedy, que diz: “não pergunte o que o seu país pode fazer por você; pergunte oque você pode fazer pelo seu país”. Friedman argumenta que a frase vai contra os valores de um homem livre e que coloca o Estado como um “patrono”, “mestre” ou “divindade”, deixando o cidadão na posição de um “tutelado” e “servo” ou “devoto”. Mesmo que o indivíduo tenha orgulho das heranças coletivas, o homem livre vê o governo como um instrumento e não como um Deus que precisa ser venerado e servido.
Friedman também defende que a verdadeira questão deveria ser: como o indivíduo e seus compatriotas devem usar o Estado para alcançar seus diversos objetivos e, ao mesmo tempo, proteger as liberdades para não serem destruídas pelo instrumento que foi criado para protege-las?
Quanto a isso, o autor explica que as funções de um governo deveriam ser limitadas. Limitadas a proteger nossa liberdade contra invasores externos e contra os crimes de concidadãos, a preservar a lei e a ordem, a assegurar o cumprimento de contratos e garantir mercados competitivos. Deveríamos assegurar que o setor privado fosse uma forma de controle do poder do setor governamental e uma proteção da liberdade de expressão, da religião, e de pensamento.
Outro princípio era a descentralização do poder. Já que o Estado deveria exercer o poder, o melhor a se fazer seria dar mais autonomia aos municípios do que ao Estado, e pior ainda, centralizar o poder na capital. O argumento era que, se você não se sentisse bem com oque sua comunidade escolhesse, como por exemplo, como deveria ser o fornecimento de esgoto e educação, em um país com poder descentralizado, você poderia mudar para outra comunidade, ou para outro município, ou até mesmo para outro Estado, mas com o poder centralizado, caso você não goste como Washington impõe as regras, precisaria mudar para outra nação que não fosse tão invejosa.
Para Friedman, existiam duas coisas claras quanto à pobreza. Primeiro, um dos objetivos principais do Estado é aliviar a pobreza, isto é, os programas deveriam ser voltados para ajudar os pobres. Não deveria haver um outro motivo para ajudar uma pessoa além do fato dessa pessoa ser pobre. Os programas deveriam ser criados para beneficiar as pessoas como indivíduos, e não como membros de organizações profissionais, sindicalistas, empresariais, entre outras. E o segundo, deveria ser, na medida do possível, que os programas não impedissem e nem distorcessem as operações de mercado. Assim como a política do salário mínimo, subsídios, tributos e coisas do gênero fazem. A centralização do poder não era só mais difícil de driblar, mas também cria uma faca de dois gumes: daria poder para pessoas que fizessem o bem, mas que não estariam lá amanhã, e esse mesmo poder estaria nas mãos de pessoas que poderiam fazer algo mau.
O economista defendia os vales para educação por entender que, esses vales dariam aos pais maior liberdade de escolher em qual instituição seus filhos deveriam ser educados. Ele via a estatização da educação como um problema para promover a diversidade e a redução da liberdade individual.
Friedman via que o papel do governo era limitado a propiciar um ambiente jurídico e monetário saudável para o um bom funcionamento de uma economia de livre mercado. O temor de qualquer liberal, para ele, deveria ser o de concentrar poder demais na mão de poucos. Ele usa o exemplo da grande depressão (1929-1939) para provar o dano que pode ser causado pelos erros de alguns poucos homens que detêm muito poder sobre o sistema monetário de um país. Por isso era a favor de um banco central independente, e que as decisões fossem tomadas a partir de normas e não de vontade política ou ideológica.
O multiplicador Keynesiano também foi criticado na obra. Para o autor, o gasto do governo não gerava “novo dinheiro” na economia.
A defesa da liberdade e poder limitado do governo também tinha como argumento a genialidade individual. Shakespeare não obteve suas realizações porque o governo simplesmente criou diretrizes para isso, mas sim um ambiente social que abriu espaço para a variedade e diversidade. Variedade e diversidade essas que o governo não pode reproduzir.
Ele faz uma alerta aos liberais do século XX, alegando que esses liberais estão incentivando políticas e ações governamentais que os liberais do século XIX tanto lutaram contra.
Quem estuda ou conhece um pouco sobre economia pode sentir a linguagem do livro um pouco ultrapassada, mas as ideias de Milton Friedman estão impregnadas na macroeconomia.
Se você quer entender como Friedman pensava e oque ele defendia, Capitalismo e Liberdade é uma leitura imprescindível.